Mon. Oct 7th, 2024

Estes serão os interiores do renovado Teatro Nikita Mikhalkov. Foto fornecida por Yuri Cooper.

O Centro de Teatro e Cinema Nikita Mikhalkov, na Rua Povarskaya, está atualmente fechado para reformas, mas os trabalhos de acabamento começarão em breve. No próximo ano o teatro será aberto ao público. Perguntamos ao autor do projeto de reconstrução, o famoso artista plástico Yuri Cooper, como será por dentro e também por fora. É impossível reconstruir radicalmente o edifício do antigo Teatro de Atores de Cinema: é um monumento ao construtivismo dos arquitetos dos irmãos Vesnin. Mas é possível fazer grandes reformas, que aqui nunca foram feitas, e decorar os interiores com elegância.

Artista Yuri Cooper. Foto fornecida por Yuri Cooper.

– Yuri Leonidovich, agora o minimalismo está na moda: as paredes parecem concreto, gesso áspero… O construtivismo parece permitir soluções tão modernas. Você sucumbiu à moda?

– Em nenhum caso! Estilo – arte povere traduzido do italiano – “arte pobre” – adoro pintar. Gostaria de ver o teatro decorado em estilo imperial. Nikita Mikhalkov e eu compartilhamos essa ideia”, diz Yuri Cooper. –

– Como é o estilo imperial? Caro e rico?

– Deve parecer caro. Haverá espelhos no teto e nos nichos, mármore conjugado com madeira (as paredes, como ficámos a saber, serão revestidas a folheado de freixo – Ed.), o que impressiona muito. O lobby tem móveis lacados a preto. Os assentos no auditório virão da Itália. A cortina parece um enorme painel. O emblema do teatro Nikita Mikhalkov Workshop 12 está representado na fachada e no interior do edifício: os andorinhões voando pelo céu.

– Você já trabalhou com Nikita Sergeevich nas performances “12” e “Metamorfose”?

– Sim, é confortável trabalhar com ele. Mas começamos a colaborar há muito tempo: em meados dos anos 80, em Roma, no Teatro Argentina, apresentamos a peça “Peça Inacabada para Piano Mecânico”, na qual Marcello Mastroianni protagonizava. Conhecemos Nikita graças às nossas esposas, que então trabalharam como modelos na Casa Modelo na Kuznetsky Most. Depois emigrei. E dez anos depois nos conhecemos em Roma, onde eu morava na época, e Nikita veio fazer uma peça e precisava de um artista. Tivemos um desempenho muito impressionante. No fosso da orquestra havia um “rio” de água, borboletas voavam e no palco havia um pombal de quatro andares com pássaros de verdade.

Os trabalhos de acabamento do teatro começarão em breve. Foto fornecida por Yuri Cooper.

– Bem, você não surpreenderá os teatros modernos de Moscou com essas artes. Agora temos rios e lagos inteiros aparecendo em cena. Cavalos e cães correm. Mas poucos tiveram a sorte de trabalhar com Mastroianni. Estrela do mundo…

– Definitivamente. Mas ela nunca demonstrou isso. Ele era um homem muito modesto e um contador de histórias incrível e espirituoso. É um tesouro escondido de diferentes histórias. Quando ele falava de mulheres, vocês podem imaginar quantos romances ele tinha, ele nunca se vangloriava. Pelo contrário, nessas histórias ele parecia ridículo e engraçado. Embora, sem dúvida, as mulheres o adorassem.

– Como cenógrafo, desenhou diversas performances: “Boris Godunov” no Teatro Bolshoi, “Metamorfose” na Academia Mikhalkov e recentemente no Galina Vishnevskaya Opera Singing Center, a peça “Eugene Onegin”. E fiquei surpreso ao saber que estão desenvolvendo um projeto para a estação ZIL do metrô…

– Este é um trabalho mais difícil para mim do que o teatro, porque está relacionado com a arquitetura. Mas há uma especificação técnica na qual me concentro. O lobby da estação terá colunas como as de uma oficina de fábrica. Há ferragens no teto, como na planta que leva seu nome. Likhachev, cuja arquitetura é muito pitoresca.

No próximo ano o teatro será aberto ao público. Foto fornecida por Yuri Cooper.

– Você disse que na pintura gosta de arte pvere – “arte pobre”. Por que de repente?

– Gosto da textura de paredes velhas e em ruínas. Quando criança, morava em um apartamento comunitário, cercada por uma pobreza miserável, mas era linda à sua maneira, como um cenário de teatro. Leonardo da Vinci disse aos seus alunos: “Se quiserem aprender a pintar, olhem com mais frequência para as paredes velhas e descascadas que sobreviveram durante séculos”. Isto não é decadência, é a pátina do tempo, que se nota muito nos edifícios de Florença, de Veneza… Não se trata apenas da arquitectura das cidades antigas, mas também das suas muralhas. A propósito, em São Petersburgo há uma abundância desta bela ruína…

…Para confirmar as suas palavras, Yuri Cooper leva-me até uma prateleira da sua oficina, onde há pincéis velhos e pregos enferrujados: uma “arte povere” natural. Você não perceberá imediatamente que estes não são pincéis reais, mas sim uma imitação de cerâmica feita pelo homem. Mas parece tão real que você vai querer pegar um solvente e lavar os pincéis.

– Yuri Leonidovich, por que você deixou a União Soviética há meio século? Você era um dissidente?

– Nunca fui dissidente, não participei da exposição Bulldozer destruída, onde, na minha opinião, não havia um único bom artista. A maioria eram amadores sem talento. Naquela época, havia duas direções no mainstream: a arte oficial – artistas realistas socialistas e os chamados não-conformistas. Não pertencia a um ou outro. Embora eu gostasse mais dos realistas socialistas. Mas havia outra coisa que era mais interessante. Depois houve um boom na pintura na Europa. Em Paris, nos finais de semana, as pessoas lotavam as galerias de arte. Naquela época os artistas normais estavam na moda, não como agora.

– E agora isso? Anormal? Há alguns anos, em Moscou, na entrada do centro de arte contemporânea “GES-2 House of Culture”, foi instalada uma escultura do artista suíço Urs Fischer. Você gosta deste objeto de arte?

– Não para mim. Mas os jovens ou os críticos de arte “avançados” gostam. Eles falam sobre esse Clay: incrível! Porque é um exagero. O mesmo vale para o “Quadrado Negro” de Malevich. O mundo inteiro admira. Aliás, Malevich não trabalhou apenas como abstracionista. Ele tinha muitos outros trabalhos, até realisticamente, mas você não os conhece. Porque são medíocres, do meu ponto de vista. Mas assim que ele desenhou um quadrado preto, todos choraram de admiração. Vimos significados profundos.

Projeto de nova estação de metrô ZIL. Foto fornecida por Yuri Cooper.

– O que há de especial no “Quadrado Preto”?

– Na minha opinião, nada.

– Você morou em Londres, Paris, Nova York. Você fez sucesso lá, suas obras estão no Metropolitan Museum of Art de Nova York, nas coleções do Ministério da Cultura francês e na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Mas eles voltaram para Moscou há muito tempo. E o primeiro país em seu caminho de emigração foi Israel, para onde, há um ano e meio, correram muitas figuras culturais russas. Pelo contrário, você fugiu de Israel há muito tempo. Porque?

– Muito provinciano. Um ano depois (antes não consegui escapar de lá) fui para Londres. Depois – para Paris, para Nova Iorque, novamente – para Paris… Foi interessante trabalhar em diferentes países.

O maravilhoso artista Mikhail Kozakov, que em algum momento também emigrou para Israel, retornou rapidamente à Rússia. Depois de Moscou, não há nada para fazer em Israel: é uma província. Não posso dizer que Moscou seja um centro mundial de arte, mas aqui é muito mais interessante.

– Onde fica a capital cultural do mundo?

– Ainda é Nova York. Até certo ponto – Londres, Paris. Acredito que Pequim se tornará em breve a capital cultural. Mas Moscou, claro, também.

By NAIS

THE NAIS IS OFFICIAL EDITOR ON NAIS NEWS

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *